Sunday, April 09, 2006

nalgum lugar em que eu nunca estive,
alegremente além de qualquer experiência,
teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos,
nalgum lugar me abres sempre pétala por pétala
como a Primavera abre (tocando sutilmente, misteriosamente)
a sua primeira rosa (...)

*Nalgum Lugar E. E. Cummings (tradução: Augusto de Campos)




Há em ti o mistério do começo de todas as coisas, a beleza do que se cria e se imagina por primeiro, se inaugura, do nunca antes, da primeira vez e isso me pega desprevenida, chuva torrencial que despenca do céu no meio da tarde em plena primavera e traz consigo o gosto das estrelas nascidas na noite anterior. Minha cidade foi tomada de surpresa.
*Ticcia

1 comment:

Ana Claudia Lintner said...

"O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar..."