Tuesday, December 29, 2009



- Vou-me embora hoje.
Ele olhou-a demoradamente, como quem não quer perder nada.
- Não te despedes de mim?
Ele continou a olhá-la, sem dizer palavra. O que dizer quando o coração nega a partida?
- Vou levar-te comigo na alma.
Ele então chorou. E quis partir com ela, escondido no fundo dos seus brincos ou nas palmas das suas mãos.
- Adoro quando brincas com os meus dedos. Parece que queimam, que me inflamo ao teu toque.
E ele brincou mais uma vez. Como se fosse a última. E era mesmo.


*Autoria desconhecida

Wednesday, December 23, 2009



"Não se preocupe, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais autodestrutiva do que insistir sem fé nenhuma?

Ah, passa devagar a tua mão na minha cabeça, toca meu coração com teus dedos frios, eu tive tanto amor um dia..."


*Caio F. Abreu


Wednesday, November 25, 2009




Chegaste
com tua tesoura de jardineiro
e começaste a cortar:
uma folhas aqui e ali
uns ramos...

Eu estava desprevenida
quando arrancaste a raiz.



*Ivette Centeno

Monday, November 16, 2009




Encontrei um verso fraturado,

caído na esquina da rua do lado,

Tinha se perdido de um coração saudoso

que passava por ali, desiludido.

Coloquei-o de pé,
emendei seus pedaços,
refiz suas linhas,
retoquei seus traços.
Afaguei suas dores como se fossem minhas.

Agora, novamente estruturado,
espero que ele não olhe para trás

e não misture sonhos
com amargas falências do passado;
que saiba enfeitar a estrela lá na frente

com fartos laços de rima colorida.
... pois é para o futuro que caminham
todos os passos apressados desta vida.




*Flora Figueiredo

Tuesday, November 03, 2009


Invocação ao amor

Pedir-te a sensação
a água
o travo

aquele odor antigo
de uma parede
branca

Pedir-te da vertigem
a certeza
que tens nos olhos quando
me desejas

Pedir-te
sobre a mão
a boca inchada
um rasto de saliva
na garganta

pedir-te que me dispas
e me deites
de borco e os meus seios
na tua cara

Pedir-te que me olhes e me aceites
me percorras
me invadas
me pressintas

Pedir-te que me peças
que te queira
no separar das horas
sobre a língua

Meu ciúme
meu perfil
minha fome

meu sossego
minha paz
minha aventura

Meu sabor
minha avidez
saciedade

minha noite
minha angústia
meu costume


*Maria Teresa Horta

Saturday, October 17, 2009


Memories, pressed between the pages of my mind
Memories, sweetened thru the ages just like wine
Quiet thought come floating down
And settle softly to the ground
Like golden autumn leaves around my feet
I touched them and they burst apart with sweet memories,
Sweet memories
Of holding hands and red bouquets
And twilight trimmed in purple haze
And laughing eyes and simple ways
And quiet nights and gentle days with you
Memories, pressed between the pages of my mind
Memories, sweetened thru the ages just like wine,
Memories, memories, sweet memories


*
Samarony, você estará sempre nas nossas memórias e em nossos corações.

Thursday, October 08, 2009

"Eu vou te contar porque você não me conhece. E eu tenho que gritar isso, porque você está surdo e não me ouve. A sedução me escraviza a você, ao fim de tudo você permanece comigo, mas preso ao que eu criei e não à mim. E quanto mais falo sobre uma verdade inteira, um abismo maior nos separa. Você não tem um nome, eu tenho, você é um rosto na multidão e eu sou o centro das atenções. Mas a mentira da aparência do que eu sou é a mentira da aparência do que você é. Porque eu, eu não sou o meu nome e você não é ninguém. O jogo é perigoso que eu pratico aqui. Ele busca chegar ao limite possível de aproximação. Através da aceitação da distância e do reconhecimento dela. Entre mim e você existe a notícia, eu me dispo da notícia e a minha nudez parada te denuncia e espelha. Eu me relato, tu me delatas, eu vos acuso e confesso por nós.
Só assim me livro das palavras com as quais você me veste."

Sunday, September 27, 2009

SUBIDA



Quando o dia acorda atravessado, escalo uma montanha.

É meu próprio caminho em direção ao sol.

Mochila nas costas, carrego o principal não levo nem perguntas, nem respostas.

Ponho um ramo de sonhos que vou plantando pelo caminho, a flauta encantada pra seduzir passarinho, a estrela companheira que brilha o tempo inteiro e mantém a trilha iluminada;
um frasco de água benta, uma reza certeira; um arco-íris à prova de vento, um peito aberto à prova de nada.

Devagarinho, sem pressionar o tempo, chego ao meu destino.

Respiro fundo, abro os braços, canto um hino de sagração ao mundo - e agradeço - por ter descoberto de repente por onde se começa um recomeço.


*Flora Figueiredo

Wednesday, September 23, 2009

Naufraguei entre dois fôlegos

de um tempo

em que respirar-te era um bálsamo.




São instantes, as felicidades virgens.

São saudades, são queixumes,

são escolhas lançadas de um barco

que não alcançam o vento nem o sal da minha fé.



*cferreirapedro (Os ácaros do meu armário)

Tuesday, September 22, 2009

Voltas em volta dos contratos de Amor




Nos contratos que tu lavras
não vi, Amor, valimento.
Só palavras e palavras
feitas de sonho e de vento.

Primeira volta: lavrar.
Lavra o amor algum contrato?
Lavra, sim, mas como ato
de grassar, de incendiar.
Lavrar? Melhor - celebrar.
Se há bona fide e paixão
no ato da celebração,
há muito mais que palavras
nos contratos que tu lavras,
há um sol na solidão.

Volta dois: da validade.
O amor, o amar vale a pena
se a pessoa não é pequena.
Seu prazo é a sua verdade:
um dia? a eternidade?
Seja intenso, seja infindo
enquanto dure, indo e vindo.
Diz o mote em desalento:
- não vi, Amor, valimento,
mas eu vi e vale e é lindo.
Terceira volta: o objeto
desses contratos de Amor
há de ser somente o amor
seja ele aberto ou secreto.
Mas que seja o Amor, completo
em sua frágil plenitude.
Ah, Amor, que só amor mude
os contratos que apalavras.
Só palavras e palavras
amor não é, amiúde.

Que esta quarta volta abrace
a palavra. Que a não leve
o vento. Que a verdade a eleve
em seu altar e que a enlace.
O amor fica ainda que passe,
ainda que passe o vento.
Feitas de sonho e de vento?
Palavras do Amor, risonho:
que se são feitas de sonho,
não, não são feitas de vento.



*Pedro Galvão

Tuesday, September 15, 2009

"Entonces seré tuya...


... llenando mi cuerpo con tus

deseos...

Abandónate conmigo...

...y no busques nada más..."


Thursday, August 27, 2009


“Todo amor tem seu instante inaugural, seu big bang particular, que é, por definição, um começo perdido, do qual os amantes, por mais perspicazes que sejam, nunca são contemporâneos. Não há amante que não seja, na verdade, o herdeiro tardio de um instante de amor que nunca verá, capturado que ficou, e para sempre, no breu da sua aparição. Só que agora, com o discernimento frenético dos que já se sabem condenados, (…) podia voltar atrás e procurar esse sinal original, tentar identificá-lo ou dar-se ao luxo, mesmo, de escolhê-lo. Podia, por exemplo, demorar-se um instante numa imagem (…), mas depois a descartava, decepcionado, para deixar-se enfeitiçar por outra (…), até que descartava o álbum inteiro e caía de joelhos diante de um som, um único som (…)”


*Alan Pauls

Saturday, August 22, 2009


"O senhor sabia - Diadorim: que bastava ele me olhar com os olhos verdes tão em sonhos, e, por mesmo de minha vergonha, escondido de mim mesmo eu gostava do cheiro dele, do existir dele, do morno que a mão dele passava para a minha mão".


*Grande Sertão: Veredas - João Guimarães Rosa

Sunday, August 16, 2009


Pensa em mim, em tudo aquilo que ainda sou eu
use a coragem não só pra dizer adeus.

Pensa em mim, em tudo aquilo que ainda sou eu

mentiras, sonhos e perdões que a vida me deu.

Com você me sentia sozinha, com você não sabia
esperar.
Em todos procurava o futuro que nenhum poderia me
dar.

Mas todo amor que dentro de mim pode haver,
rouba a sede,
ilumina
me usa
só pra você.



*Ana Carolina

Saturday, August 08, 2009



Al perderte yo a ti,
tú y yo hemos perdido:

yo, porque tú eras
lo que yo más amaba,

y tú, porque yo era
el que te amaba más.

Pero de nosotros dos,
tú pierdes más que yo:

porque yo podré
amar a otras
como te amaba a ti,

pero a ti nadie te amará
como te amaba yo.



*Ernesto Cardenal , Epigrama mandado por minha Sis...que me ama...e que eu amo tanto... Tks, Sweet Ana!

Saturday, August 01, 2009




Un amor le a devuelto la alegría a mi ser,
por eso yo a ti te quiero, por eso yo te querré.
Te prometo vida mia que nunca te dejare,
haces que siga viviendo y siempre yo te amaré.

Por eso te canto, te digo a la cara que me tienes loco,
que estoy enamorada, que te quiero mucho
y es inexplicable decir con palabras y un amor tan grande.

Si algun dia tu me dejas, y te alejas mas de mi,
dejare toda mi alma solo llena de sufrir.
Eres aire que respiro, eres sueño mi dormir,
tu lo eres todo, lo eres todo para mi.

Son mis sentimientos los que canto aqui, me has enamorado,
yo te quiero a ti. Que dios me maldiga si te hago daño,
si te hago sufrir, si yo a ti te engaño.
Pero te prometo que nunca mi amor habrá una persona
que te ame mas que yo.


Monday, July 20, 2009




Basta um fio de cabelo, um perfume no ar, ou um balançar de pés e pernas. Poucas coisas. Pequenas coisas. Sussurros que destroem civilizações. A cautela daquele que seduz. Um manusear de linhas e sombras. Talvez, minhas próprias linhas, minhas próprias sombras.


* Blog Lucidez Perigosa (by Gap)

Monday, July 13, 2009

Temptation & Seduction


Long ago, we each had a role to play
temptation and seduction
like a movie without a script
we improvised
because we were so young
and the nights lasted that much longer
and we were grateful for every second of darkness outside
outside in perfectly manicured gardens
the cool grass covered in a midnight dew
soaking through jeans and t-shirts
we kicked our shoes off and dashed into lakes
and laughed and breathed and sang and knew
beyond a shadow of a doubt that no one in the world had ever felt the way
we did
no one on this planet knew the secret of love, the feel of wet grass under
bare feet on late summer nights
we watched the moon and she watched us and she promised to keep our secret
bright and full
in beds of flowers bursting with color
our young bodies bare
not yet knowing what it means to be inhibited
skin like petals
soft and fragrant
the trees shuffling their branches in a private dance only we could hear
the music
lips and whispers entangled
so new and yet ancient
tasting like life itself, fresh and true and hungry
we rolled and turned with the earth spinning beneath us
air so sweet,
sweet with jealousy
as we drank our youth
those nights, now so far and always so near
not a single summer passes without a reminiscence
the trees still dance and the moon still glows
and a year of our youth is peeled off
while our hearts grow cooler
darkness no longer holds the same magic

we grow and grow a greater distance between us
though you will always remain with me,
a precious charm recalled on late summer nights
while the scent of flowers in first bloom
still brings your name to my lips

Sunday, July 12, 2009

Texto para uma separação




Olhe aqui, olhos de azeviche
Vamos acertar as contas
porque é no dia de hoje
que cê vai embora daqui...
Mas antes, por obséquio:
Quer me devolver o equilíbrio?
Quer me dizer por que cê sumiu?
Quer me devolver o sono meu doril?
Quer se tocar e botar meu marcapasso pra consertar?
Quer me deixar na minha?
Quer tirar a mão de dentro da minha calcinha?
Quer parar de torcer pro meu fim
dentro do meu próprio estádio?
quer parar de saxdoer no meu próprio rádio?
Vem cá, não vai sair assim...
Antes, quer ter a delicadeza de colar meu espelho?
Assim: agora fica de joelhos
e comece a cuspir todos os meus beijos.
Isso. Agora recolhe!
Engole a farta coreografia destas línguas
Varre com a língua esses anseios
Não haverá mais filho
pulsações e instintos animais.
Hoje eu me suicido ingerindo
sete caixas de anticoncepcionais.
Trata-se de um despejo
Dedetize essa chateação que a gente chamou de desejo.
Pronto: última revista

Leve esta bobagem
que você chamou
de amor à primeira vista.
Olhos de azeviche, vem cá:
Apague esse gosto de pescoço da minha boca!
E leve esses presentes que você me deu:
essa cara de pau, essa textura de verniz.
Tire também esse sentimento de penetração
esse modo com que você me quis
esses ensaios de idas e voltas
essa esfregação
esse bob wilson erotizado
que a gente chamou de tesão
Pronto. Olhos de azeviche, pode partir!
Estou calma. Quero ficar sozinha
eu co’a minha alma. Agora pode ir
Gente! Cadê minha alma que estava aqui?



*Elisa Lucinda

Friday, July 10, 2009



Não adiantou de nada
Pegar a estrada e vir
Pra este lugar
Você apareceu
Na noite passada
Num pouso de emergência
Sem me avisar
Cruzou o meu espaço
Invadiu meu sonho
Levou todos os planos
Pra me conquistar

O que você quer de mim
Me iludir, me acordar
E me deixar ruim
O que você quer de mim
Me iludir, me acordar
E me deixar assim

Como posso ter te perdido
Se você nunca me pertenceu
Como posso ter te esquecido
Se a gente nunca se conheceu
E mesmo assim, pensei em te ligar
Mandar notícias minhas
Mas afinal

O que você quer de mim
Me iludir, me acordar
E me deixar ruim
O que você quer de mim
Me iludir, me acordar
E me deixar assim


*Cileno

Sunday, July 05, 2009



Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida.



*Mia Couto

Thursday, July 02, 2009



A boca calada. A respiração cavando silêncios. As mãos a pesarem tanto que exilei os gestos rentes ao coração. Poiso a cabeça sobre a mão direita e penso: para o encontrar de novo recomeçaria tudo outra vez, andaria todos os caminhos, arriscaria a minha vida. Hora após hora, ele regressa ao meu pensamento, e vem do lugar de todas as ausências, e tem nos braços a mesma curva onde os pássaros iniciam o primeiro vôo. Pedir-lhe-ia, agora, que só uma vez me dissesse: bebe a minha sede.


*Graça Pires

Wednesday, July 01, 2009


Esta manhã encontrei o teu nome nos meus sonhos e o teu perfume a transpirar na minha pele. E o corpo doeu-me onde antes os teus dedos foram aves de verão e a tua boca deixou um rasto de canções. No abrigo da noite, soubeste ser o vento na minha camisola; e eu despi-a para ti, a dar-te um coração que era o resto da vida - como um peixe respira na rede mais exausta. Nem mesmo à despedida foram os gestos contundentes: tudo o que vem de ti é um poema. Contudo, ao acordar, a solidão sulcara um vale nos cobertores e o meu corpo era de novo um trilho abandonado na paisagem. Sentei-me na cama e repeti devagar o teu nome, o nome dos meus sonhos, mas as sílabas caíam no fim das palavras, a dor esgota as forças, são frios os batentes nas portas da manhã.


*Maria do Rosário Pedreira

Monday, June 22, 2009




"...
Então, que seja doce
.
Repito todas as manhãs,
ao abrir as janelas para deixar entrar
o sol ou o cinza dos dias, bem assim:
que seja doce. Quando há sol,

e esse sol bate na minha cara amassada
do sono ou da insônia, contemplando as
partículas de poeira soltas no ar,
feito um pequeno universo,
repito sete vezes para dar sorte:
que seja doce,
que seja doce ,
que seja doce
e assim por diante."


*
Caio Fernando Abreu


Monday, June 15, 2009



...Se eu demorar uns meses


convém às vezes você sofrer


Mas depois de um ano eu não vindo


ponha roupa de domingo e pode me


esquecer...




*Chico Buarque


Sunday, May 31, 2009

Faz-me falta amar para lá da lucidez.
Sorrir e corar com palavras doces, pintadas à mão.
Sentir a tua ausência como o sacrifício que valia a pena.
Acontecer-me o amor como à fruta que amadurece no cesto.
Ultrapassar barreiras do toque, dos beijos e da solidão.
Viajar nos teus sonhos e debruçar-me à janela dos meus.
Ouvir a tua voz e entorpecer-me de paixão.
Ter na pele um carinho descontroladamente constante.


Faz-me falta estar à tua espera.


*Carla Ferreira Pedro

Sunday, May 24, 2009


Eu quero o delírio.
Eu sou assim.
Não pretendo a integração, mas a abertura e a busca.
Encontrar pode ser impossível ou desinteressante.
Quero o pressentimento.
Quero comprimir a tecla do computador e explodir o ponto e arquear o contorno, varando os limites que a vida há de preencher e o sonho tornará possível.
Quero o delírio que faça as utopias virem sentar-se na minha varanda e escrever no meu computador quando a razão estiver cansada, quando a técnica parecer frívola, ou quando eu estiver descrente."



*Lya Luft

Thursday, May 21, 2009


Ele diz:


 "Hoje de madrugada, por volta das duas e meia, senti uma vontade louca de você. Fui até ao quarto, abri a gaveta. Lá estava a minha blusa vermelha. Levei-a ao meu rosto e fiquei entorpecido por um envolvente cheiro. Um cheiro inodoro, que somente os animais mais primitivos conseguem sentir. Um cheiro delicioso e lancinante de fêmea no cio".



*Guardo isso comigo. Guardo teu cheiro e teu beijo. Guardo teu sorriso lindo e tuas mãos no meu corpo. Volte logo. Te espero com impaciência e desejo intenso.



Tuesday, May 19, 2009

A tua língua-serpente,
açoita os meus sentidos
e alaga os meus pudores.
Tua grandeza cravada em mim,
faz desabrochar a absurda flor
da minha pele.
Dilatados e indecentes,
os meus poros,
tão impregnados da tua saliva
e do teu tato.




Bebes o prazer e te traduzes
na taça do meu ventre.
Cravas a tua indecente
garra na pequenêz
dos meus segredos em brasa.
Vertentes de vento,
furacões,
cataclismas,
tempestade...
De tão tua,
de tão arrebatada e desmedida,
de tão fluida,
transbordo,
e me reinventas.

*Míriam Monteiro



Monday, May 18, 2009




essa brasa
essa chama
esse lume

esse
fogo
esse forno
essa caldeira

ah, esse
amor
que arde
incendeia

esse corpo
essa fornalha
essa fogueira

essa alma
essa queimada
que se alastra

em labareda
me envolvo
a noite inteira

ah, essa
paixão
me acende
me inflama

me consome e me transforma
em tocha humana


*Vera Maya

Thursday, May 14, 2009


Eu andei
Sorri
Chorei tanto
Não me arrependi
Ganhei e perdi
Fiz como pude
Lutei contra o amor
Quanto mais vencia, me achava um perdedor
Mais tarde me enganei e vi com outros olhos
Quando às vezes não amei a mim
Não por falta de amor
Mas amor demais
Me levando pra alguém
Quem visitou os corredores da minha alma
Soube dos enganos, secretos planos e até os traumas
Eu sempre fui muito só

Eu andei
Sorri
Chorei tanto
Fui quase feliz
Fiz tudo que quis
Fiz como pude
Desprezei meu ego
Dando esmolas a ele
Como se fosse um cego
Mais tarde me enfeitei, até pintei os olhos
Quando às vezes não amei a mim
Não por falta de amor
Mas amor demais
Me escapando pra alguém
Quem visitou os corredores da minha alma
Soube dos meus erros
E dos nós que fiz bem na linha da vida
Eu sempre fui muito só


*Ana Carolina

Sunday, May 10, 2009



Sair descalça pela rua e sentir o calor da terra. Caminhar sem observar os rostos e partir com bilhete só de ida. Adentrar o trem e colocar os braços para fora para abraçar o vento. Viajar sem rumo e parar na estação onde o abraço lhe apertou o passo. Descer em lugar algum e parar em frente à árvore mais acolhedora, mas que lhe parece solitária. Despojar de horas a admirá-la e envolver seu corpo sobre o tronco até sentir que transmuta a energia. Seguir adiante com as pedras que já não lhe incomodam mais os pés. Despir a roupa que lhe aquece, mas empobrece a alma e perceber que não precisa dela. Abandoná-la na estrada árida e notar que as flores brotam das pedras. Sorrir ao ver o sorriso das crianças e dançar pela rua para imortalizar o gesto. Entrar na próxima estação e comprar bilhete para uma nova jornada. Seguir sem rumo e não se importar com o longo caminho, pois as rosas perfumam o destino. Sussurrar na brisa seus instintos e deixar que ela guie seu espírito em desalinho. Confessar que a terra não lhe assusta mais e que o mundo é pequeno para si, mas acreditar que o globo já é um bom início...


*Juliana Pestana

Thursday, May 07, 2009

Quero dizer-te
Que do meu peito
Tiraste tudo




De todo o lume
Que há em ti
O que mais me arde
É não saber com que ternura
Ficas nos dedos
Quando não estou


*Vanessa Pelerigo

Wednesday, May 06, 2009




Quando eu vou parar e olhar pra mim?
Ficar de fora
E olhar por dentro
Se eu não consigo
Organizar minhas idéias
Se eu não posso
Se eu esqueço de mim?

Eu pensei que fosse forte
Mas eu não sou

Quando eu vou parar pra ser feliz?
Que hora?
Se não dá tempo
Se eu não me encontro
Nos lugares onde eu ando
Nem me conheço
Viro o avesso de mim

Se eu não sei o que é sonhar
Faz tanto tempo
Tanto mar
E o meu lugar
É aqui!

Uma rua atravessada em meu caminho
Nos meus olhos
Mil faróis
Preciso aprender a andar sozinho
Pra ouvir minha própria voz
Quem sabe assim
Eu paro pra pensar em mim
Quem sabe assim
Eu paro pra pensar em mim...



*Ana Carolina, Dudu Falcão e Lula Queiroga

Sunday, May 03, 2009




- É saudade então.

E mais uma vez
De você fiz o desenho mais perfeito que se fez:
Os traços copiei do que não aconteceu.
As cores que escolhi, entre as tintas que inventei,
Misturei com a promessa que nós nunca fizemos
De um dia sermos três.
Trabalhei com você em luz e sombra.

Era sempre:
-Não foi por mal. Eu juro que nunca quis deixar você tão triste.
Sempre as mesmas desculpas
E desculpas nem sempre são sinceras -
Quase nunca são.

Preparei a minha tela
Com pedaços de lençóis
Que não chegamos a sujar.
A armação fiz com madeira
Da janela do seu quarto.
Do portão da sua casa
Fiz paleta e cavalete
E com lágrimas que não brincaram com você
Destilei óleo de linhaça
E da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes d
e tamanhos diferentes
E fiz então
Pincéis com seus cabelos.
Fiz carvão do batom que roubei de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei no horizonte.

Era sempre:
- Não foi por mal. Eu juro que não foi por mal.
Eu não queria machucar você: Prometo que isso nunca vai acontecer mais uma vez
E era sempre, sempre o mesmo novamente -
A mesma traição.

Às vezes é difícil esquecer:
- Sinto muito, ela não mora mais aqui.

Mas então porque eu finjo que acredito no que invento?
Nada disso aconteceu assim - não foi desse jeito.
Ninguém sofreu: é só você que provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De "amor-perfeito" e "não-te-esqueças-de-mim".

*Renato Russo


Friday, May 01, 2009



Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. 


*Luiz Fernando Veríssimo

Thursday, April 30, 2009


Queria te conhecer hoje e esquecer que já andaste por minha vida, já chegaste e já partiste. Queria fazer a trilha inaugurando o caminho sem refeituras, sem reconstruções, preservando os bordados dos dias, vivendo-os novamente sem saber que já os vivi. Queria andar nas pegadas do que vivemos juntos e emprestar-lhes cores mais intensas, dar de comer aos momentos como quem alimenta pássaros nas mãos e te olhar mais, absorver mais o cheiro da tua pele, sentir mais o gosto da tua boca. Queria me entregar de novo pela primeira vez e então te olhar nos olhos, me amiudar entre os teus braços sabendo da falta que me farão e do quanto o mundo fica grande e triste depois que tu te vais. Queria ouvir de novo a tua voz dizendo o meu nome tão junto dos meus lábios sabendo que aquele pequeno milagre jamais se repetiria. Queria não me deixar adormecer ao teu lado e decorar tua anatomia, o som da tua respiração, a cor dos teus cílios, enquanto tu ainda descansavas naquela última noite. E te olharia pela última vez sem esperanças ou certezas, sem infinitudes ou amplidão, e seria simplesmente eu e minha tristeza, sem carregar para sempre essa dor de morte nos braços.

*Ticcia

Monday, April 27, 2009



"Todos os girassóis são pra ti 
Todo meu afeto 
Toda a minha vida 
As flores que ainda carrego comigo 
Todos os meus pensamentos 
Feliz aniversário meu amor..."


Saturday, April 25, 2009



beije-me as coxas
pálpebras, dedos, lóbulos
os dois

beije-me os seios
um e outro, que são ciumentos
ambos

beije-me os lábios
superior e inferior
os grandes e os pequenos

todos


*Martha Medeiros

Wednesday, April 22, 2009

Quantas noites não durmo,
A rolar-me na cama
A sentir tanta coisa
Que a gente não pode explicar quando ama
O calor das cobertas
Não me aquece direito
Não há nada no mundo
Que possa afastar
Esse frio do meu peito.




Volta,
Vem viver outra vez ao meu lado,
Não consigo dormir sem teu braço,
Pois meu corpo está acostumado


*Lupicínio Rodrigues

Monday, April 20, 2009



Tu me vês sólida, torre alta, crivada de mosaicos, recheada de labirintos, estruturada em rocha, invulnerável. Me vês bastante em mim, servindo-me dos outros e de ti num bacanal onde sou a anfitriã e a convidada de honra. Além do que eu digo, há sempre algo velado, maquinado em meu próprio interesse. Meus sofrimentos são feras domesticadas há muito e minhas lágrimas são meus escudos servis, muito úteis, quando necessários. Não preciso de ninguém, não quero ninguém que possa desbordar para além das funções pré-determinadas, ninguém que possa tolher minha plena, ampla, irrestrita, absoluta e irrenunciável liberdade. Manipuladora em um grande teatro de sombras, onde do outro lado da tela só existe eu. Grande aranha negra, perversa e pervertida, devassa e devastadora, meu fim sou eu e minhas vontades; meus meios, o meu prazer e suas múltiplas possibilidades. Esta é a que te convém, a que não sofre e não quer nada além do mundo torto e mesquinho que lhe ofereces, a que te reserva um lugar tão pobre e menor em sua vida quanto o que a ela destinas, a que te quer entre as pernas mas não entre os braços, a que não se humilha com o teu desdém, nem com o teu pouco caso, afinal, a lista é enorme e sempre pode-se chamar o próximo. Esta é a que te deixa copular em paz com a tua culpa, tua covardia, tua crueldade.
Mas esta não sou eu.


*Patrícia Antoniette


Eu tava aqui tentando não pensar no seu sorriso
Mas me peguei sonhando com sua voz ao pé do ouvido
E te liguei
Me encontro tão ferida, mas te vejo ai também em carne viva
Será que não tem jeito?
Esse amor ainda nem nasceu direito, pra morrer assim

Se você pudesse ter me ouvido um pouco mais
Se você tivesse tido calma pra esperar
Se você quisesse poderia reverter
Se você crescesse e então se desculpasse
Mas se você soubesse o quanto eu ainda te amo
É que eu não posso mais

Não vou voltar atrás
Raspe dos teus dedos minhas digitais
Eu não vou voltar atrás
Apague da cabeça o meu nome, telefone e endereço
Eu não vou, eu não vou voltar atrás
Arranque do teu peito o meu amor cheio de defeitos(...)

*Isabella Taviani