Tuesday, September 22, 2009

Voltas em volta dos contratos de Amor




Nos contratos que tu lavras
não vi, Amor, valimento.
Só palavras e palavras
feitas de sonho e de vento.

Primeira volta: lavrar.
Lavra o amor algum contrato?
Lavra, sim, mas como ato
de grassar, de incendiar.
Lavrar? Melhor - celebrar.
Se há bona fide e paixão
no ato da celebração,
há muito mais que palavras
nos contratos que tu lavras,
há um sol na solidão.

Volta dois: da validade.
O amor, o amar vale a pena
se a pessoa não é pequena.
Seu prazo é a sua verdade:
um dia? a eternidade?
Seja intenso, seja infindo
enquanto dure, indo e vindo.
Diz o mote em desalento:
- não vi, Amor, valimento,
mas eu vi e vale e é lindo.
Terceira volta: o objeto
desses contratos de Amor
há de ser somente o amor
seja ele aberto ou secreto.
Mas que seja o Amor, completo
em sua frágil plenitude.
Ah, Amor, que só amor mude
os contratos que apalavras.
Só palavras e palavras
amor não é, amiúde.

Que esta quarta volta abrace
a palavra. Que a não leve
o vento. Que a verdade a eleve
em seu altar e que a enlace.
O amor fica ainda que passe,
ainda que passe o vento.
Feitas de sonho e de vento?
Palavras do Amor, risonho:
que se são feitas de sonho,
não, não são feitas de vento.



*Pedro Galvão

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