Saturday, March 22, 2008

Tua presença modifica minha anatomia. Quando chegas sou toda imensos olhos, pupilas dilatadas, cílios piscantes para não perder nada da tua imagem, que ora é vento norte, ora é um grande labirinto de espelhos. Quando me tocas, esqueço do resto de mim e me reduzo ao pedaço de pele sob as tuas mãos e só existo nas terminações nervosas que captam o teu calor. Quando me beijas, minha boca é o grande ralo para onde escoa todo o meu corpo, para onde migram todos os sentidos ocupados em captar cada pequeno estímulo dos teus lábios, língua, dentes, pele, cheiro, estrelas sugadas pelo buraco negro. Quando me abraças, o universo cabe dentro dos teus braços e me sei enquanto matéria por ti delimitada e apartada do tudo que resta, do pouco que sobra para além de nós mesmos. Mas quando teu corpo se mistura ao meu, quando em mim te afundas, te tornas passagem, ponte e ao mesmo tempo horizonte, quando te fundes ao meu corpo em que já não me sou, mas somos, sou maior, muito maior do que me soube e sou tanto e imensamente grande, como só sei ser misturada à tua anatomia.

*Ticcia

Friday, March 14, 2008



Levo-te o mar e as rendas das canoas. Levo-te o chá de ervas que colore as mãos depois do abraço. Levo-te os ombros na véspera do sol. Levo-te a cabeleira de astros e a lareira de grilos. Levo-te a glória do limo e os degraus dentro da estante. Levo-te um rosto surpreso e o gancho da porta para pôr o casaco. Levo-te um pensamento que não foi sentimento. Levo-te o visco mais duro, o céu inconformado, o verde aposentado. Levo-te meu sotaque de praia, meu dialeto de inverno. Levo-te minhas notícias sem jornal, a ambulância da brisa. Levo-te os insetos em frascos e a boca aberta de espanto. Levo-te o ritmo das cartas sendo embaralhadas. Levo-te meu álbum de fotos e as figurinhas repetidas para trocar. Levo-te a conversa de corredor, a porta observada. Levo-te o filho no colo, a carícia dos ouvidos. Levo-te as frutas do pé e a horta do fim da casa. Levo-te as jóias falsas para as pedras disputarem corrida no piso. Levo-te a caridade ainda não descontada, a insatisfação aumentando. Levo-te minhas pernas altivas, meus seios de lado. Levo-te os milagres que não aconteceram, a garrafa de água. Levo-te a renúncia, as gramíneas em caixotes, a colher do violão. Levo-te o medo da escada em caracol, as tampas de vidro dos perfumes. Levo-te meu nome do meio, a escritura do pessegueiro. Levo-te o cheiro da cidade natal, o estojo de linha e agulha. Levo-te o sótão de meus livros, a letra mais arisca. Levo-te meus problemas incomunicáveis. Levo-te a indulgência infantil ao açúcar. Levo-te o animal de estimação de meus cinco anos e sua desaparição repentina. Levo-te o perdão ao teu pai e à mãe, o pomar das gavetas. Levo-te a manhã depois de ter amado à noite. Levo-te a noite depois de ter odiado à tarde. Levo-te areia fora da ampulheta, o resto de música que fica no copo. Levo-te a minha risada, a loucura, o palavrão. Levo-te alguma senha esquecida, algum pente esquecido na bolsa. Levo-te a covardia do salto, a timidez do sutiã. Levo-te a aparência de quem não chegou a tempo. Levo-te a Bíblia marcada com fita de cabelo. Levo-te os mistérios gozosos. Levo-te a salvo o ainda que não abrimos juntos.


*Fabrício Carpinejar (adaptado)

Sunday, March 09, 2008




Eu não vou te convencer
Do que é certo aqui pra mim
Eu não vou mudar você
Deixa o vento lhe mostrar
Ele sabe sobre mim


Eu não quero mais correr
Vou cuidar do meu jardim
Trago flores pra você
Deixo o tempo lhe mostrar
Nossa historia é mesmo assim

Chora, pois a chuva de agora
Vai molhar as suas rosas
E a tristeza vai ter fim
É hora, acabou a tempestade pra chegar
A claridade do amor

Chora, pois a chuva de agora
Vai molhar as suas rosas
E a tristeza vai ter fim...


*Ana Carolina

Saturday, March 01, 2008


..."Sofrer com tanta angústia
Por coisas tão pequenas
Gastar essa energia
Assim não vale à pena
Quem dera me livrar
Pra sempre de mim mesmo!
E só me reencontrar
Lá no teu doce abismo"...