Sunday, May 31, 2009

Faz-me falta amar para lá da lucidez.
Sorrir e corar com palavras doces, pintadas à mão.
Sentir a tua ausência como o sacrifício que valia a pena.
Acontecer-me o amor como à fruta que amadurece no cesto.
Ultrapassar barreiras do toque, dos beijos e da solidão.
Viajar nos teus sonhos e debruçar-me à janela dos meus.
Ouvir a tua voz e entorpecer-me de paixão.
Ter na pele um carinho descontroladamente constante.


Faz-me falta estar à tua espera.


*Carla Ferreira Pedro

Sunday, May 24, 2009


Eu quero o delírio.
Eu sou assim.
Não pretendo a integração, mas a abertura e a busca.
Encontrar pode ser impossível ou desinteressante.
Quero o pressentimento.
Quero comprimir a tecla do computador e explodir o ponto e arquear o contorno, varando os limites que a vida há de preencher e o sonho tornará possível.
Quero o delírio que faça as utopias virem sentar-se na minha varanda e escrever no meu computador quando a razão estiver cansada, quando a técnica parecer frívola, ou quando eu estiver descrente."



*Lya Luft

Thursday, May 21, 2009


Ele diz:


 "Hoje de madrugada, por volta das duas e meia, senti uma vontade louca de você. Fui até ao quarto, abri a gaveta. Lá estava a minha blusa vermelha. Levei-a ao meu rosto e fiquei entorpecido por um envolvente cheiro. Um cheiro inodoro, que somente os animais mais primitivos conseguem sentir. Um cheiro delicioso e lancinante de fêmea no cio".



*Guardo isso comigo. Guardo teu cheiro e teu beijo. Guardo teu sorriso lindo e tuas mãos no meu corpo. Volte logo. Te espero com impaciência e desejo intenso.



Tuesday, May 19, 2009

A tua língua-serpente,
açoita os meus sentidos
e alaga os meus pudores.
Tua grandeza cravada em mim,
faz desabrochar a absurda flor
da minha pele.
Dilatados e indecentes,
os meus poros,
tão impregnados da tua saliva
e do teu tato.




Bebes o prazer e te traduzes
na taça do meu ventre.
Cravas a tua indecente
garra na pequenêz
dos meus segredos em brasa.
Vertentes de vento,
furacões,
cataclismas,
tempestade...
De tão tua,
de tão arrebatada e desmedida,
de tão fluida,
transbordo,
e me reinventas.

*Míriam Monteiro



Monday, May 18, 2009




essa brasa
essa chama
esse lume

esse
fogo
esse forno
essa caldeira

ah, esse
amor
que arde
incendeia

esse corpo
essa fornalha
essa fogueira

essa alma
essa queimada
que se alastra

em labareda
me envolvo
a noite inteira

ah, essa
paixão
me acende
me inflama

me consome e me transforma
em tocha humana


*Vera Maya

Thursday, May 14, 2009


Eu andei
Sorri
Chorei tanto
Não me arrependi
Ganhei e perdi
Fiz como pude
Lutei contra o amor
Quanto mais vencia, me achava um perdedor
Mais tarde me enganei e vi com outros olhos
Quando às vezes não amei a mim
Não por falta de amor
Mas amor demais
Me levando pra alguém
Quem visitou os corredores da minha alma
Soube dos enganos, secretos planos e até os traumas
Eu sempre fui muito só

Eu andei
Sorri
Chorei tanto
Fui quase feliz
Fiz tudo que quis
Fiz como pude
Desprezei meu ego
Dando esmolas a ele
Como se fosse um cego
Mais tarde me enfeitei, até pintei os olhos
Quando às vezes não amei a mim
Não por falta de amor
Mas amor demais
Me escapando pra alguém
Quem visitou os corredores da minha alma
Soube dos meus erros
E dos nós que fiz bem na linha da vida
Eu sempre fui muito só


*Ana Carolina

Sunday, May 10, 2009



Sair descalça pela rua e sentir o calor da terra. Caminhar sem observar os rostos e partir com bilhete só de ida. Adentrar o trem e colocar os braços para fora para abraçar o vento. Viajar sem rumo e parar na estação onde o abraço lhe apertou o passo. Descer em lugar algum e parar em frente à árvore mais acolhedora, mas que lhe parece solitária. Despojar de horas a admirá-la e envolver seu corpo sobre o tronco até sentir que transmuta a energia. Seguir adiante com as pedras que já não lhe incomodam mais os pés. Despir a roupa que lhe aquece, mas empobrece a alma e perceber que não precisa dela. Abandoná-la na estrada árida e notar que as flores brotam das pedras. Sorrir ao ver o sorriso das crianças e dançar pela rua para imortalizar o gesto. Entrar na próxima estação e comprar bilhete para uma nova jornada. Seguir sem rumo e não se importar com o longo caminho, pois as rosas perfumam o destino. Sussurrar na brisa seus instintos e deixar que ela guie seu espírito em desalinho. Confessar que a terra não lhe assusta mais e que o mundo é pequeno para si, mas acreditar que o globo já é um bom início...


*Juliana Pestana

Thursday, May 07, 2009

Quero dizer-te
Que do meu peito
Tiraste tudo




De todo o lume
Que há em ti
O que mais me arde
É não saber com que ternura
Ficas nos dedos
Quando não estou


*Vanessa Pelerigo

Wednesday, May 06, 2009




Quando eu vou parar e olhar pra mim?
Ficar de fora
E olhar por dentro
Se eu não consigo
Organizar minhas idéias
Se eu não posso
Se eu esqueço de mim?

Eu pensei que fosse forte
Mas eu não sou

Quando eu vou parar pra ser feliz?
Que hora?
Se não dá tempo
Se eu não me encontro
Nos lugares onde eu ando
Nem me conheço
Viro o avesso de mim

Se eu não sei o que é sonhar
Faz tanto tempo
Tanto mar
E o meu lugar
É aqui!

Uma rua atravessada em meu caminho
Nos meus olhos
Mil faróis
Preciso aprender a andar sozinho
Pra ouvir minha própria voz
Quem sabe assim
Eu paro pra pensar em mim
Quem sabe assim
Eu paro pra pensar em mim...



*Ana Carolina, Dudu Falcão e Lula Queiroga

Sunday, May 03, 2009




- É saudade então.

E mais uma vez
De você fiz o desenho mais perfeito que se fez:
Os traços copiei do que não aconteceu.
As cores que escolhi, entre as tintas que inventei,
Misturei com a promessa que nós nunca fizemos
De um dia sermos três.
Trabalhei com você em luz e sombra.

Era sempre:
-Não foi por mal. Eu juro que nunca quis deixar você tão triste.
Sempre as mesmas desculpas
E desculpas nem sempre são sinceras -
Quase nunca são.

Preparei a minha tela
Com pedaços de lençóis
Que não chegamos a sujar.
A armação fiz com madeira
Da janela do seu quarto.
Do portão da sua casa
Fiz paleta e cavalete
E com lágrimas que não brincaram com você
Destilei óleo de linhaça
E da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes d
e tamanhos diferentes
E fiz então
Pincéis com seus cabelos.
Fiz carvão do batom que roubei de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei no horizonte.

Era sempre:
- Não foi por mal. Eu juro que não foi por mal.
Eu não queria machucar você: Prometo que isso nunca vai acontecer mais uma vez
E era sempre, sempre o mesmo novamente -
A mesma traição.

Às vezes é difícil esquecer:
- Sinto muito, ela não mora mais aqui.

Mas então porque eu finjo que acredito no que invento?
Nada disso aconteceu assim - não foi desse jeito.
Ninguém sofreu: é só você que provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De "amor-perfeito" e "não-te-esqueças-de-mim".

*Renato Russo


Friday, May 01, 2009



Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. 


*Luiz Fernando Veríssimo