Saturday, May 06, 2006



Vontade de te encontrar hoje e fazer de conta que as portas não se fecharam na cara do sonho que não ousaste sonhar comigo. Vontade de sentar no mesmo banco e te olhar nos olhos insanamente feliz pelo simples fato de estares ali, olhando dentro de mim enquanto a primavera se inaugura nos galhos daquele ipê. Vontade de ignorar todas as minhas proibições, placas de proibido retornar e jogar água abaixo os esforços para me manter à distância e deitar de novo ao teu lado fingindo que é para sempre, como fiz tantas vezes. Vontade de me embebedar do teu cheiro e cometer atrocidades contra o meu senso de ridículo, contra minha sanidade mental, contra o meu instinto de auto-preservação. Mas não devo. Tu és ainda uma ferida em cicatrização na qual não se deve mexer, um castelo de cartas instável e titubeante com o qual todo cuidado é pouco, uma fera selvagem parcialmente adormecida que não convém cutucar. Imploro pouco convicta para que as horas me dissuadam do incauto propósito, arrefeçam o incêndio dos meus sentidos e façam com que o monstro do desejo de mim não se aperceba. Tarefa árdua: preciso me convencer do contrário de mim mesma.


*Ticcia

3 comments:

Anonymous said...

Certeza
(Gilberto Vaz de Melo)

Quero-te como quero em todas as manhãs
O vento frio penetrando em meu quarto
E despertando-me em sensação de saudade.
Quero-te como quero um jardim constante
Exalando dos meus poros
O odor da vida e da perpetuidade.
Quero-te como o impossível preso em minhas mãos
Para fazer de ti o motivo eterno de meus sonhos.
Quero-te como quem quer somente para si,
O abraço maior de todas as emoções.
Quero-te assim, acordando-me sempre
Deste meu sonho, em sua breve chegada.

Saudade de você!

Anonymous said...

Além da Terra, Além do Céu


A Além da Terra,
além do Céu,
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros,
na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar,
até onde alcançam o pensamento e o coração,
vamos!
vamos conjugar
o verbo fundamental essencial,
o verbo transcendente, acima das gramáticas
e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempre amar,
o verbo pluriamar,
razão de ser e de viver.

*Carlos Drummond de Andrade

Anonymous said...

Soneto Enamorado

Dulce como el arroyo soñoliento,
Mansa como la lluvia distraída,
Pura como la rosa florecida
Y próxima y lejana como el viento.


Esta mujer que siente lo que siento
Y esta sangrando por mi propia herida
Tiene la forma justa de mi vida
Y la medida de mi pensamiento.

Cuando me quejo es ella mi querella
Y cuando callo mi silencio es ella,
Y cuando vivo es ella el corazón.


*Francisco Luis Bernardez