Friday, May 05, 2006

"Por vezes, depois das gargalhadas do dia e de se fingir que a vida continua, regressamos a casa, olhamo-nos ao espelho e vemos que afinal a vida parou no dia exato em que perdemos aquele olhar inteiro.Há noites assim. Chegam com uma dor faladora que abre fendas na garganta."






3 comments:

Anonymous said...

Ausência


Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

*Carlos Drummond de Andrade

Anonymous said...

Eros e Psique


Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

*Fernando Pessoa

Ana Claudia Lintner said...

Em teus olhos mergulhei,
Mas nada, além da dor encontrei.
Em teu sorriso
Encontrei, algo que nunca terei.

Apesar de tudo, lembranças
De você ainda escorrem
Dentro de mim. Me dando
Forças para viver.

A minha alma estava sem rumo,
E encontrou você.
Você se foi,
Mas a dor persiste.

E eu me pergunto:
O que seria a dor,
A não ser para
Nos lembrar do amor?