Thursday, June 22, 2006

A explicação me foge rato rápida e esquiva quando pressinto tua presença grande e mansa, tua chegada de perturbação e murmúrios. Teus passos sempre precedidos de um farfalhar de ramos, de um estalar de folhas, de galhos mesmo entre o concreto das avenidas. Tua proximidade vem com um sopro na nuca, um deslizar de víbora sobre as vértebras da coluna, uma instabilidade quântica das moléculas das pernas. Teu sorriso anacrônico traz sempre Camões, Nerudas, Pessoas e eu nuca sei se vais recitar Quintana ou propor Kama Sutra. Delícia de dúvida.

*Ticcia




2 comments:

Anonymous said...

Se me vem tanta glória só de olhar-te,
ă pena desigual deixar de ver-te;
Se presumo com obras merecer-te,
Grão paga de um engano é desejar-te.

Se aspiro por quem és a celebrar-te,
Sei certo por quem sou que hei-de ofender-te;
Se mal me quero a mim por bem querer-te,
Que prémio querer posso mais que amar-te?

Porque um tão raro amor não me socorre?
Ó humano tesouro! Ó doce glória!
Ditoso quem à morte por ti corre!

Sempre escrita estarás nesta memória;
E esta alma viverá, pois por ti morre,
Porque ao fim da batalha é a vitória.

* Luís de Camões

Ana Claudia Lintner said...

"Eu quero um colo,
um berço,
um braço quente em torno ao meu pescoço,
uma voz que cante baixo e
pareça querer me fazer chorar.
Eu quero um calor no inverno,
um extravio morno de minha consciência e
depois sem som, um sonho calmo,
um espaço enorme,
como a lua rodando entre as estrelas..."