Saturday, September 30, 2006


"É uma flor simples
que te ofereço
no meu corpo
é uma flor colorida
que te encanta
mas recusas
é uma flor viçosa
que não murcha
e é tua"




Friday, September 29, 2006

"Encostar os lábios.
Só encostar os lábios...
E ficarem paradas, coladas,
A tua boca e a minha.
E chamar-te com a língua
E a tua responder,
E enroscar-se
E perder-se
E ficar
E esquecer-se,
Num beijo tão longo
De língua e saliva…
E subir por ti,
E escalar o teu rosto,
E dar-te o meu peito
Para tu provares,





Do desejo tanto
Que o mamilo hirto
Dói na tua boca.
E a dor é tão quente
Que contorce o corpo,
Que enrola o corpo,
Que geme prazer.
E a tua mão
Que me surpreende,
Que me toca e prende,
Que me sabe, me pressente,
E adivinha,
Os lugares secretos
Os meus locais calados
Onde a tua mão se aloja
Onde a tua mão se aninha.
E eu assim tão presa entre a tua boca
Que me suga o peito,
Que o morde e o beija
E o acarinha.
E a tua mão
Que me abre o corpo,
E recebe o rio
Que me molha as coxas
Que te molha as coxas
E acaricias."


Thursday, September 28, 2006


El dominio de los sentidos...





Wednesday, September 27, 2006





"Não viverei entre cacos de vidro, entre navalhas, entre pontas de lança envenenadas de culpa. O que me pertence nasce e morre comigo, foi inventado em meus olhos e dorme sob mechas dos meus cabelos, se nutre do meu ventre. Não viverei entre víboras, entre escorpiões, entre ratos de lembrança. Não viverei aqui, à míngua, não tenho âncora, tenho asa. Não viverei entre lixo, entre restos, entre escombros do teu passado. O que sinto é profundo mas não traz em si a covardia de uma raiz fincada, sou móvel, líquida, fluida e instável, porque viva. Não viverei entre galhos, entre espinhos, entre as folhas mortas do que descartaste. Não tenho freios, tenho partidas. Não tenho sossego, tenho ardor. Não viverei entre areia, entre pedras, entre abismos de promessas que se foram. Meus trilhos se trifurcam, quadrifurcam... e eu sigo por todos eles. Não viverei entre miséria, água pouca, migalhas de desejo. Minha mesa é farta e eu mesma me darei de comer."

Friday, September 22, 2006



Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

e um dia me acabarei.

*Cecilia Meireles



Monday, September 18, 2006


Ardo pela fome das tuas mãos, pela sofreguidão dos teus gestos, pelo desespero da tua boca a percorrer minhas frestas e reentrâncias. Me desnudo fêmea em gosto, pétala e umidade à espera da invasão da tua carne. Quero a posse lasciva da língua, o ritmo insano do corpo porque em mim há um todo de ti que urge, rebenta, lateja, e uma de mim que quando chegas e me cobres e me preenches e me inundas, transborda em ti.

*Ticcia

Tuesday, September 12, 2006



"Nesse físico de um deus grego,
Numa intensa relação,
Eu pálida e bêbada , tremo
E me afogo e me sufoco
Entre loucura e paixao

Quero fundir meu corpo,
No teu corpo junto ao meu.
Nos teus braços serei cega
Pra que sejas o meu guia.
Nos seremos a matéria,
Nosso amor a energia.

Se esse amor me modifica,
Me transforma, me edifica,
Se ele afeta tanto a mim,
também te transformara.

A energia desse amor
Afetou-nos para sempre
E a matéria que hoje somos
Outra amanhã será...

Seremos dois novos amantes
Pelo amor energizados
Transformados,
Mas em que??
Quem eras antes de mim??
Quem sou depois de você??

No meu seio serás meu,
Para o uso que quiser.
Nos teus braços em abandono,
Ao teu lado sou mulher.



Monday, September 11, 2006


"Meus líquidos infestam tua pele e minha carne treme entre teus dentes. Me salvo da asfixia com os goles de ar que saem da tua boca, sugados pelos meus lábios. Escrevo meu nome a saliva na tua barriga, incrusto meus fluidos entre teus dedos, sinto o cheiro do meu sexo na tua boca, ouço tuas palavras escaparem pelos meus lábios, perco meus cabelos em tuas mãos, encontro meu rosto sobre teu peito, me visto de delicadeza e loucura sob teu peso, preencho tuas frestas com a fome da tua inteireza, banhas meus pés com a tua língua, descubro meu prazer emaranhado na tua força, refazes o meu corpo com teus movimentos. Renasço em gozo repleta de ti."

Wednesday, September 06, 2006


"A fome das coisas incertas a que me remete tua voz, fome imprecisa e ambulante que ora tenho nas mãos, ora tenho nos olhos, ora pede-me asas, ora crava raízes no chão. A fome vaga do cheiro dos teus cabelos, a fome oca do teu abraço longínquo, essa fome voraz que devoraria o ar que respiras, a fome triste dos lugares vazios que ocupaste. Fome de dias invividos, fome de antes, fome de quando, fome dos seus guardados embaixo da cama."

*Ticcia

Monday, September 04, 2006


Retrato em Branco e Preto




Já conheço os passos dessa estrada
Sei que não vai dar em nada
Seus segredos sei de cor
Já conheço as pedras do caminho
E sei também que ali sozinho
Eu vou ficar tanto pior
O que é que eu posso contra o encanto
Desse amor que eu nego tanto, evito tanto
E que no entanto volta sempre a enfeitiçar
Com seus mesmos tristes velhos fatos
Que num álbum de retrato eu teimo em colecionar
Lá vou eu de novo feito um tolo,
Procurar o desconsolo
Que eu cansei de conhecer
Novos dias tristes,
Noites claras, versos, cartas
Minha cara, ainda volto a lhe escrever
Pra lhe dizer que isso é pecado
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado
E você sabe a razão
Vou colecionar mais um soneto
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração

*Tom Jobim e Chico Buarque



Friday, September 01, 2006

Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.



Talvez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo.

*Neruda