Friday, March 14, 2008



Levo-te o mar e as rendas das canoas. Levo-te o chá de ervas que colore as mãos depois do abraço. Levo-te os ombros na véspera do sol. Levo-te a cabeleira de astros e a lareira de grilos. Levo-te a glória do limo e os degraus dentro da estante. Levo-te um rosto surpreso e o gancho da porta para pôr o casaco. Levo-te um pensamento que não foi sentimento. Levo-te o visco mais duro, o céu inconformado, o verde aposentado. Levo-te meu sotaque de praia, meu dialeto de inverno. Levo-te minhas notícias sem jornal, a ambulância da brisa. Levo-te os insetos em frascos e a boca aberta de espanto. Levo-te o ritmo das cartas sendo embaralhadas. Levo-te meu álbum de fotos e as figurinhas repetidas para trocar. Levo-te a conversa de corredor, a porta observada. Levo-te o filho no colo, a carícia dos ouvidos. Levo-te as frutas do pé e a horta do fim da casa. Levo-te as jóias falsas para as pedras disputarem corrida no piso. Levo-te a caridade ainda não descontada, a insatisfação aumentando. Levo-te minhas pernas altivas, meus seios de lado. Levo-te os milagres que não aconteceram, a garrafa de água. Levo-te a renúncia, as gramíneas em caixotes, a colher do violão. Levo-te o medo da escada em caracol, as tampas de vidro dos perfumes. Levo-te meu nome do meio, a escritura do pessegueiro. Levo-te o cheiro da cidade natal, o estojo de linha e agulha. Levo-te o sótão de meus livros, a letra mais arisca. Levo-te meus problemas incomunicáveis. Levo-te a indulgência infantil ao açúcar. Levo-te o animal de estimação de meus cinco anos e sua desaparição repentina. Levo-te o perdão ao teu pai e à mãe, o pomar das gavetas. Levo-te a manhã depois de ter amado à noite. Levo-te a noite depois de ter odiado à tarde. Levo-te areia fora da ampulheta, o resto de música que fica no copo. Levo-te a minha risada, a loucura, o palavrão. Levo-te alguma senha esquecida, algum pente esquecido na bolsa. Levo-te a covardia do salto, a timidez do sutiã. Levo-te a aparência de quem não chegou a tempo. Levo-te a Bíblia marcada com fita de cabelo. Levo-te os mistérios gozosos. Levo-te a salvo o ainda que não abrimos juntos.


*Fabrício Carpinejar (adaptado)

3 comments:

Anonymous said...

Tento no meu sonho,
Cinzento
Sonhar-te…
Colorindo de lindas cores,
Esse meu sonho
Sempre ofuscado pela neblina,
E escuridão.
Percorro as margens do sonho,
Onde te despes para mim
Não as vestes,
Que te cobrem tão belo corpo
Mas a tua alma,
O teu ser,
As tuas emoções.
Sonho-te…
Despida de preconceitos
De dúvidas,
De medos,
De inquietações.
Sonho-te…
Sorrindo para mim
Com esse teu sorriso luminoso,
E belo…
Sonho-te…
Junto a mim
Inebriando-me com o teu perfume,
Com o teu calor…
Sonho-te…
Como sempre quis sonhar
Junto a mim…
Encostando a cabeça ao meu ombro
E depois…murmurando baixinho,
Dizias…Amo-te…

Kitty said...

Sonho-te...

Anonymous said...

Outro dia ao me deitar tive um sonho.Sonhava estar em um lugar que jamais havia visto,mas sentia(o porque eu não sei),como se já o conhecesse.Olhei a minha volta e um vasto campo de flores me cercava,repleto de um cheiro que exalava paz,plena,como se inundasse minh'alma.
Olhava em minha frente as montanhas que mais pareciam um tapete de flores que se alternavam em cores.
Derrepente,ao longe,vi-te.
Linda...
Teu sorriso parecia engolir todo o resto que nos cercava,teus pés pareciam não tocar o chão.Paraiva com encanto e soberania sobre o campo
Ao se aproximar olhando em meus olhos,dissera aquilo que sempre quis escutar:Eu te amo.
Meus Deus,que mais precisava ao meu ser?O que mais queria eu olhando em teus olhos poder ouvir?
Teus sussurros de amor...
Por mim se acabava o sonho naquele momento tendo a certeza que pude por um instante ter aquilo que almejei por toda a vida,desde que nasci,o motivo real da então vida,apenas porque esperava-te.
Teus olhos mais pareciam fontes de aguas cristalinas que jamais vi em minha vida e ate hj ainda tento encontrar tal que se compare.Tua pele me parecia nuvens,porém com a felicidade de poder tocar.Olhei em teus olhos de tal forma que mais nada ao meu redor podia eu contemplar,como se entrelaçasse nossas almas e se lesse tudo que ainda oculto pairava,tudo que outrora ainda era incerto,apenas no teu olhar desvendei os maiores misterios do amor,da vida,de mim...
Teus lábios...
Confesso que após tão bela viagem em meu introspectivo mediante o teu olhar que a mim fora a essencia de toda verdade
ousei-me mirar os teus lábios,meu Deus...
Teus lábios destilavam um cheiro de mel,o qual até as abelhas sentiriam inveja por tal docura,minhas mãos tremiam.
Por um instante estava tendo tudo que nasci para encontrar.
Apenas um beijo seria capaz de transcender a barreira do sonho e eternizar o meu amor entre os confins do mundo.
Ao olhar-te,teu rosto resplandecia,era como se clamasse a mim:Beija-me
Temia eu acordar por pensar que enganoso seria até o sonho,era impossível para um mero mortal tal sonho,pensava que nada poderia ser tão perfeito assim,com os dedos trémulos e a alma em repleta excelencia toquei teus lábios e fechei os olhos,como se pudesse sentir em minh'alma o tão sonhado gosto dos teus lábios.
Fui,de olhos fechados ao encontro do que seria o amago do amor, finalmente poderia eu beijar-te,para idealizar o futuro que em devaneios almejava.
Num instante...despertei!
Triste desenrolar...
Faltava-me ainda o beijo,amargava em mim tal sonho...
Teus olhos,assim como teus lábios se dissiparam com o presente.
Teu cheiro ainda impregnado exalava de minh'alma.
Novamente dormi,mas dai então jamais sonhei.
Hoje vivo,apenas por esperar o dia em que tudo sera verdade,em que tudo terá sentido.
Ainda que seja,
Apenas em outro sonho...