Tua presença modifica minha anatomia. Quando chegas sou toda imensos olhos, pupilas dilatadas, cílios piscantes para não perder nada da tua imagem, que ora é vento norte, ora é um grande labirinto de espelhos. Quando me tocas, esqueço do resto de mim e me reduzo ao pedaço de pele sob as tuas mãos e só existo nas terminações nervosas que captam o teu calor. Quando me beijas, minha boca é o grande ralo para onde escoa todo o meu corpo, para onde migram todos os sentidos ocupados em captar cada pequeno estímulo dos teus lábios, língua, dentes, pele, cheiro, estrelas sugadas pelo buraco negro. Quando me abraças, o universo cabe dentro dos teus braços e me sei enquanto matéria por ti delimitada e apartada do tudo que resta, do pouco que sobra para além de nós mesmos. Mas quando teu corpo se mistura ao meu, quando em mim te afundas, te tornas passagem, ponte e ao mesmo tempo horizonte, quando te fundes ao meu corpo em que já não me sou, mas somos, sou maior, muito maior do que me soube e sou tanto e imensamente grande, como só sei ser misturada à tua anatomia.
*Ticcia
*Ticcia