Monday, July 03, 2006

SE PUDER SEM MEDO




























Deixa em cima dessa mesa a foto que eu gostava
Pra pensar que teu sorriso envelheceu comigo
Deixa eu ter a tua mão mais uma vez na minha
Pra que eu fotografe assim meu verdadeiro abrigo
Deixa a luz do quarto acesa a porta entreaberta
O lençol amarrotado mesmo que vazio
Deixa a toalha na mesa e a comida pronta
Só na minha voz não mexa eu mesmo silencio
Deixa o coração falar o que eu calei um dia
Deixa a casa sem barulho achando que ainda é cedo
Deixa o nosso amor morrer sem graça e sem poesia
Deixa tudo como está e se puder sem medo
Deixa tudo que lembrar eu finjo que esqueço
Deixa eu ver se me recordo uma frase de efeito
Pra dizer te vendo ir fechando atrás da porta
Deixa o que não for urgente que ainda preciso
Deixa o meu olhar doente pousado na mesa
Deixa ali teu endereço qualquer coisa aviso
Deixa o que fingiu levar mas deixou de surpresa
Deixa eu chorar como nunca fui capaz contigo
Deixa eu enfrentar a insônia como gente grande
Deixa ao menos uma vez eu fingir que consigo
Se o adeus demora a dor no coração se expande
Deixa o disco na vitrola preu pensar que é festa
Deixa a gaveta trancada pra eu não ver tua ausência
Deixa a minha insanidade é tudo o que me resta
Deixa eu pôr à prova toda minha resistência
Deixa eu confessar meu medo do claro e do escuro
Deixa eu contar que era farsa minha voz tranqüila
Deixa pendurada a calça de brim desbotado
Que como nosso amor ao menor vento oscila
Deixa eu sonhar que você não tem nenhuma pressa
Deixa um último recado na casa da vizinha
Deixa de sofisma e vamos ao que interessa
Deixa a dor que eu lhe causei agora é toda minha
Deixa tudo o que eu não disse e que você sabia
Deixa o que você calou e eu tanto precisava
Deixa o que era inexistente e eu pensei que havia
Deixa enfim o que pedia mas pensei que dava

*Oswaldo Montenegro





1 comment:

Ana Claudia Lintner said...

Deixai,
Portanto,
Vossa alma elevar
Vossa razão às raias da paixão,
Para que cante;
E deixai-a conduzir vossa paixão
A par com a razão,
A fim de que a paixão possa
Experimentar uma ressurreição
A cada novo dia,
E como a fênix,
Renascer das próprias cinzas."