O mundo em silêncio e, em algum lugar, tua carne ainda ocupa o centro de
mim, teu nome se reveza entre meus olhos e minha boca, sem que eu saiba
que forma ele finalmente terá. Tem garras, o teu nome. Tem também um
sumo que arde quando escala a garganta e me põe essa dor paralisante nas
mãos. O pior em cada coisa é não saber se ensurdeceste à minha voz, o
pior em tudo é pressentir que estás desertando de mim e que tudo seca,
tudo murcha e se despetala em ausência. Sou o retrato bruto da dor, aqui
posta de braços abertos à espera dos teus olhos. Sou eu mesma a dor
refundada, delicadamente urdida sobre uma frágil tecitura de memória,
imóvel e dócil, como só a tristeza pode compor ao corpo. Espero ínfima,
mansa e imolada inseta na teia pela tua fome, ou teu abandono.
"Passeando pela vida ao lado da tranqüilidade. Espalhando sorrisos como grãos de areia. Sentindo a calmaria do mar na Alma. Derramando saudade, esperando por palavras doces. No meio de olhares despidos, olhares despretensiosos. Construindo sonhos em meio a promessas silenciosas. Amanhecendo, entardecendo e anoitecendo simplesmente. Fechar os olhos e ter aos pés margaridas e pertencer a um sentimento que permanece em um outro tempo que começa aqui agora."
Sunday, December 02, 2012
Sunday, October 14, 2012
Dispo-me da poeira dos caminhos que me trouxeram até aqui. Folhas caídas, saudades largadas num canto e beijos de borboleta são as memórias que trago da viagem insone.
As janelas, dexo-as abertas para que entrem o sol e o vento e as flores com que me presenteia a árvore vizinha.
(...)
Eles, como eu, não sabem o que dizer. Passeiam vagos entre nuvens num céu de aurora e adeus.
Eu teimo em ficar.
Por isso sigo.
*Daise Ribeiro
Thursday, June 14, 2012
(...)
Se o mundo é mesmo parecido com o que vejo
Prefiro acreditar no mundo do meu jeito
E você estava esperando voar
Mas como chegar até as nuvens
Com os pés no chão...
O que sinto muitas vezes faz sentido e outras vezes
Não descubro um motivo que me explique
porque é que não consigo ver sentido no que sinto,
que procuro o que desejo e o que faz parte
Do meu mundo...
O arco-íris tem sete cores
E fui juiz supremo
Vai, vem embora, volta
Todos têm, todos têm
Suas próprias razões...
Qual foi a semente que você plantou?
Tudo acontece ao mesmo tempo
Nem eu mesmo sei direito
O que está acontecendo
E daí, de hoje em diante
Todo dia vai ser
O dia mais importante...
(...)
Não digo nada
Espero o vendaval passar
Por enquanto eu não sei
O que você me falou
Me fez rir e pensar
Porque estou tão preocupado
Por estar tão preocupado assim...
Mesmo se eu cantasse todas as canções
Todas as canções do mundo
Sou bicho do mato...
Mas se você quiser alguém
Prá ser só seu
É só não se esquecer
Eu estarei aqui...
Ou então não terás jamais
A chave do meu coração...
*Legião Urbana
Thursday, May 17, 2012
Clave de Sol
Faz música pra mim e coloca em
envelopes fechados por língua morna. Faz versos nas costas da lua. Dedilha
nossos desafinos. Na areia da praia anoitecida, deita minha ausência e colhe os
ruídos. Oferece na concha das mãos. Segredos. Canta baixinho e grita desespero
para abafar o silêncio das pausas. Desatina mariposa, asas de procura nos meus
olhos acesos. Desenha em ponta de agulha sobre a pele e assina o nome por
baixo. Criptografia. Espera. Até ouvir meu riso com gosto de maçã a provocar
cócegas na saudade. Ele faz música e promessas bordadas em gaze. Eu sangro.
*Ane Aguirre
Monday, March 26, 2012
Thursday, March 08, 2012
Aviso da lua que menstrua
Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
mas é outro lugar, aí é que está:
cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
é que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
é que tô falando na "vera"
conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
ou sem os devidos cortejos..
Às vezes pela ponte de um beijo
já se alcança a "cidade secreta"
a Atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente
diante da própria serpente
Ela é uma cobra de avental
Não despreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano
que a mulher extrai filosofando
cozinhando, costurando e você chega com a mão no bolso
julgando a arte do almoço: Eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
então esquece de morder devagar
esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
VACA é sua mãe. De leite.
Vaca e galinha...
ora, não ofende. Enaltece, elogia:
comparando rainha com rainha
óvulo, ovo e leite
pensando que está agredindo
que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
mas é outro lugar, aí é que está:
cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
é que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
é que tô falando na "vera"
conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
ou sem os devidos cortejos..
Às vezes pela ponte de um beijo
já se alcança a "cidade secreta"
a Atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente
diante da própria serpente
Ela é uma cobra de avental
Não despreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano
que a mulher extrai filosofando
cozinhando, costurando e você chega com a mão no bolso
julgando a arte do almoço: Eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
então esquece de morder devagar
esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
VACA é sua mãe. De leite.
Vaca e galinha...
ora, não ofende. Enaltece, elogia:
comparando rainha com rainha
óvulo, ovo e leite
pensando que está agredindo
que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!
*Elisa
Lucinda
Friday, February 10, 2012
Foi
quando tu chegaste que descobri meu solo e minha pátria, que deixei o exílio e
dei um nome à terra de que sou feita. Porque tu tens uns olhos que se perderam
no mar e voltaram depois das tempestades com a dor de quem mais uma vez pôde
ser salvo. Porque teus braços me resgataram, neles desfiz minhas fronteiras e
me tornei contigo um mesmo horizonte que junta infinitos de céu e água. Porque
tua voz me conta coisas outras enquanto falas e tu sabes o que eu ouço e não
temes que eu saiba sobre todos os teus medos. Porque tu dizes meu nome de olhos
fechados, afundado em minha carne e a noite toda lateja dentro de mim e o ruído
do mundo cessa para que eu possa me lembrar só da tua voz dizendo o meu nome
longe de todas as coisas. Porque tuas mãos falam a língua da minha pele e
enfeitam meus cabelos de pequenas conchas e musgos para que eu encontre os
sentidos que eu supunha naufragados para sempre. Porque eu já não poderia me
entregar a mais ninguém sem voltar a ser estrangeira em mim mesma, sem ser de
novo uma estranha atrás de meus próprios olhos, sem desertar para sempre do meu
corpo.
*Ticcia