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Querer sem saber, e ter sem poder, a injunção de um sofrer, que transborda das mãos de quem procura o seu reflexo, na superfície de um qualquer lago, e não se vê, porque se sabe encontrado numa outra alma, onde a ternura perdura pelo infinito da eternidade, e a doçura escorre por entre os dedos. Livre-arbítrio ou imposição de forças que não se vêem, sentem-se, para lá da pele, dos sentidos e das sensações, que a atração sobrenatural não proíbe, magias e feitiços de um mago, alquimista ou feiticeiro, derramados e transformados em doce Amor, e imediatamente em amarga saudade. Antagonismos e venturas de uma vida, perdida na procura de uma felicidade momentânea, um instante, um ensejo errante, uma viagem aos primórdios do tempo, num relâmpago surdo por memórias a apagar, numa futurologia nula, sem pernas para andar, porque desde o início, fez parte do passado."
*Do blog Outra parte de mim
Vieste como um barco carregado de vento, abrindo
feridas de espuma pelas ondas. Chegaste tão depressa
que nem pude aguardar-te ou prevenir-me; e só ficaste o tempo de iludires a arquitetura fria do estaleiro
onde hoje me sentei a perguntar como foi que partiste, se partiste, que dentro de mim se acanham as certezas e
tu vais sempre ardendo, embora como um lume de cera,
lento e brando, que já não derrama calor.
Tenho os olhos azuis de tanto os ter lançado ao mar
o dia inteiro, como os pescadores fazem com as redes;
e não existe no mundo cegueira pior do que a minha:
o frio do horizonte começou ainda agora a oscilar,
exausto de me ver entre as mulheres que se passeiam
no cais como se transportassem no corpo o vaivém
dos barcos.
Dizem-me os seus passos que vale a pena esperar,
porque as ondas acabam sempre por quebrar-se junto das margens.
Mas eu sei que o meu mar está cercado de litorais,
que é tarde para quase tudo.
Por isso, vou para casa e aguardo os sonhos, pontuais como a noite.
*Maria do Rosário Pedreira