Monday, July 20, 2009




Basta um fio de cabelo, um perfume no ar, ou um balançar de pés e pernas. Poucas coisas. Pequenas coisas. Sussurros que destroem civilizações. A cautela daquele que seduz. Um manusear de linhas e sombras. Talvez, minhas próprias linhas, minhas próprias sombras.


* Blog Lucidez Perigosa (by Gap)

Monday, July 13, 2009

Temptation & Seduction


Long ago, we each had a role to play
temptation and seduction
like a movie without a script
we improvised
because we were so young
and the nights lasted that much longer
and we were grateful for every second of darkness outside
outside in perfectly manicured gardens
the cool grass covered in a midnight dew
soaking through jeans and t-shirts
we kicked our shoes off and dashed into lakes
and laughed and breathed and sang and knew
beyond a shadow of a doubt that no one in the world had ever felt the way
we did
no one on this planet knew the secret of love, the feel of wet grass under
bare feet on late summer nights
we watched the moon and she watched us and she promised to keep our secret
bright and full
in beds of flowers bursting with color
our young bodies bare
not yet knowing what it means to be inhibited
skin like petals
soft and fragrant
the trees shuffling their branches in a private dance only we could hear
the music
lips and whispers entangled
so new and yet ancient
tasting like life itself, fresh and true and hungry
we rolled and turned with the earth spinning beneath us
air so sweet,
sweet with jealousy
as we drank our youth
those nights, now so far and always so near
not a single summer passes without a reminiscence
the trees still dance and the moon still glows
and a year of our youth is peeled off
while our hearts grow cooler
darkness no longer holds the same magic

we grow and grow a greater distance between us
though you will always remain with me,
a precious charm recalled on late summer nights
while the scent of flowers in first bloom
still brings your name to my lips

Sunday, July 12, 2009

Texto para uma separação




Olhe aqui, olhos de azeviche
Vamos acertar as contas
porque é no dia de hoje
que cê vai embora daqui...
Mas antes, por obséquio:
Quer me devolver o equilíbrio?
Quer me dizer por que cê sumiu?
Quer me devolver o sono meu doril?
Quer se tocar e botar meu marcapasso pra consertar?
Quer me deixar na minha?
Quer tirar a mão de dentro da minha calcinha?
Quer parar de torcer pro meu fim
dentro do meu próprio estádio?
quer parar de saxdoer no meu próprio rádio?
Vem cá, não vai sair assim...
Antes, quer ter a delicadeza de colar meu espelho?
Assim: agora fica de joelhos
e comece a cuspir todos os meus beijos.
Isso. Agora recolhe!
Engole a farta coreografia destas línguas
Varre com a língua esses anseios
Não haverá mais filho
pulsações e instintos animais.
Hoje eu me suicido ingerindo
sete caixas de anticoncepcionais.
Trata-se de um despejo
Dedetize essa chateação que a gente chamou de desejo.
Pronto: última revista

Leve esta bobagem
que você chamou
de amor à primeira vista.
Olhos de azeviche, vem cá:
Apague esse gosto de pescoço da minha boca!
E leve esses presentes que você me deu:
essa cara de pau, essa textura de verniz.
Tire também esse sentimento de penetração
esse modo com que você me quis
esses ensaios de idas e voltas
essa esfregação
esse bob wilson erotizado
que a gente chamou de tesão
Pronto. Olhos de azeviche, pode partir!
Estou calma. Quero ficar sozinha
eu co’a minha alma. Agora pode ir
Gente! Cadê minha alma que estava aqui?



*Elisa Lucinda

Friday, July 10, 2009



Não adiantou de nada
Pegar a estrada e vir
Pra este lugar
Você apareceu
Na noite passada
Num pouso de emergência
Sem me avisar
Cruzou o meu espaço
Invadiu meu sonho
Levou todos os planos
Pra me conquistar

O que você quer de mim
Me iludir, me acordar
E me deixar ruim
O que você quer de mim
Me iludir, me acordar
E me deixar assim

Como posso ter te perdido
Se você nunca me pertenceu
Como posso ter te esquecido
Se a gente nunca se conheceu
E mesmo assim, pensei em te ligar
Mandar notícias minhas
Mas afinal

O que você quer de mim
Me iludir, me acordar
E me deixar ruim
O que você quer de mim
Me iludir, me acordar
E me deixar assim


*Cileno

Sunday, July 05, 2009



Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida.



*Mia Couto

Thursday, July 02, 2009



A boca calada. A respiração cavando silêncios. As mãos a pesarem tanto que exilei os gestos rentes ao coração. Poiso a cabeça sobre a mão direita e penso: para o encontrar de novo recomeçaria tudo outra vez, andaria todos os caminhos, arriscaria a minha vida. Hora após hora, ele regressa ao meu pensamento, e vem do lugar de todas as ausências, e tem nos braços a mesma curva onde os pássaros iniciam o primeiro vôo. Pedir-lhe-ia, agora, que só uma vez me dissesse: bebe a minha sede.


*Graça Pires

Wednesday, July 01, 2009


Esta manhã encontrei o teu nome nos meus sonhos e o teu perfume a transpirar na minha pele. E o corpo doeu-me onde antes os teus dedos foram aves de verão e a tua boca deixou um rasto de canções. No abrigo da noite, soubeste ser o vento na minha camisola; e eu despi-a para ti, a dar-te um coração que era o resto da vida - como um peixe respira na rede mais exausta. Nem mesmo à despedida foram os gestos contundentes: tudo o que vem de ti é um poema. Contudo, ao acordar, a solidão sulcara um vale nos cobertores e o meu corpo era de novo um trilho abandonado na paisagem. Sentei-me na cama e repeti devagar o teu nome, o nome dos meus sonhos, mas as sílabas caíam no fim das palavras, a dor esgota as forças, são frios os batentes nas portas da manhã.


*Maria do Rosário Pedreira