Queria te conhecer hoje e esquecer que já andaste por minha vida, já chegaste e já partiste. Queria fazer a trilha inaugurando o caminho sem refeituras, sem reconstruções, preservando os bordados dos dias, vivendo-os novamente sem saber que já os vivi. Queria andar nas pegadas do que vivemos juntos e emprestar-lhes cores mais intensas, dar de comer aos momentos como quem alimenta pássaros nas mãos e te olhar mais, absorver mais o cheiro da tua pele, sentir mais o gosto da tua boca. Queria me entregar de novo pela primeira vez e então te olhar nos olhos, me amiudar entre os teus braços sabendo da falta que me farão e do quanto o mundo fica grande e triste depois que tu te vais. Queria ouvir de novo a tua voz dizendo o meu nome tão junto dos meus lábios sabendo que aquele pequeno milagre jamais se repetiria. Queria não me deixar adormecer ao teu lado e decorar tua anatomia, o som da tua respiração, a cor dos teus cílios, enquanto tu ainda descansavas naquela última noite. E te olharia pela última vez sem esperanças ou certezas, sem infinitudes ou amplidão, e seria simplesmente eu e minha tristeza, sem carregar para sempre essa dor de morte nos braços.
*Ticcia