Procuro a porta com certeza aberta para fora dessa pele que me encerra e me condiciona a ser o que não quero. O que sou é mentira. Eu tenho poucas verdades. Uma delas é que amo você. Busco em bicos de pé, para não assanhar as aranhas da cortina que me separam do tempo ido. Não acordar os passados amortecidos porque eles fingem dormir mas estão somente em sonolência ligeira. O sofrido atrapalha o vindouro, ofusca o olhar e o que chega agora não deve ser nem alegre, nem triste, deve ser o novo apenas, para se escolher livremente sem as consultas às sombras. As saudades necessitam ser distraídas de seus assaltos impudentes, de suas mãos poderosas que apertam a garganta. Saudades têm um valor decisivo em questão nova. Na verdade, são como um peso morto que impõe sua presença insuportável no caminho limpo em que se intenta farejar trilhas. Não quero as saudades. Só quero você. A porta aberta continua lá no convite e eu me desembaraço dos lastros dos remorsos, dos volumes nos armários, dos grilhões de fitas coloridas. Esses fardos são como anzóis na minha carne, eu mesma ansiei por eles e os engoli um dia. Não os quero. Eles me separam de você. Só quero você. E a porta escancarada me chama para fora de mim, para uma região onde me verei a mim mesma. Com olhos de novidade. Meu novo é sempre você.
*Dora Vilela
*Dora Vilela
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