Foi
quando tu chegaste que descobri meu solo e minha pátria, que deixei o exílio e
dei um nome à terra de que sou feita. Porque tu tens uns olhos que se perderam
no mar e voltaram depois das tempestades com a dor de quem mais uma vez pôde
ser salvo. Porque teus braços me resgataram, neles desfiz minhas fronteiras e
me tornei contigo um mesmo horizonte que junta infinitos de céu e água. Porque
tua voz me conta coisas outras enquanto falas e tu sabes o que eu ouço e não
temes que eu saiba sobre todos os teus medos. Porque tu dizes meu nome de olhos
fechados, afundado em minha carne e a noite toda lateja dentro de mim e o ruído
do mundo cessa para que eu possa me lembrar só da tua voz dizendo o meu nome
longe de todas as coisas. Porque tuas mãos falam a língua da minha pele e
enfeitam meus cabelos de pequenas conchas e musgos para que eu encontre os
sentidos que eu supunha naufragados para sempre. Porque eu já não poderia me
entregar a mais ninguém sem voltar a ser estrangeira em mim mesma, sem ser de
novo uma estranha atrás de meus próprios olhos, sem desertar para sempre do meu
corpo.
*Ticcia